Um segredo de 52.000m² está escondido no coração da capital brasileira há 63 anos. Localizado no principal terminal rodoviário do Plano Piloto, este enorme espaço foi criado quando Brasília foi construída em 1960. Até hoje, permanece amplamente desconhecido, mas é a chave para desbloquear uma experiência de transporte público local de maior qualidade.
Como arquiteta*, urbanista e brasiliense, trabalhando na start-up de transporte público Optibus, acredito que a maior falha no projeto de terminais rodoviários é planejá-los como locais principalmente para veículos, e não para passageiros. Projetos de alto nível, como o Grand Central Madison em Nova York e o sucesso de King's Cross em Londres, provam que um bom hub de mobilidade não permite apenas conectividade mas, também, contribui para uma experiência positiva do usuário. Isso se deve ao fato de que a jornada do passageiro começa antes e termina depois da viagem em si. Para o aumento da satisfação do usuário, é fundamental investir no projeto arquitetônico dos espaços de transporte público.
*Ilana é Arquiteta, Urbanista e Coordenadora de Marketing da Optibus
Em Brasília, cerca de 800 mil pessoas e 3.800 ônibus passam diariamente pelo principal terminal rodoviário da cidade, a estação Plano Piloto. Para seus frequentadores, uma das maiores preocupações é a segurança pessoal. Foram registrados 416 incidentes criminais na estação em 2021 (um aumento de 46% em relação a 2020, em parte devido à diminuição do número de passageiros durante a pandemia). Esses crimes são principalmente roubos envolvendo armas sendo um grande motivo para os passageiros evitarem visitar o terminal e pegar ônibus.
Inaugurada em 1960 e projetada por Lúcio Costa, a rodoviária precisou de uma movimentação de terra extrema para construir os seus 3 níveis de pavimentos em um solo originalmente plano. Consequentemente, foram criados quatro espaços vazios de aproximadamente 13.000m² em cada aresta da área central. Eles permanecem sem uso e escondidos até hoje. Ativar esses espaços e adaptá-los às necessidades locais pode ajudar significativamente a resolver problemas de segurança, melhorando a experiência do passageiro.
Um dos espaços vazios de 13.000m², preenchido com terra comprimida na construção da estação. Crédito: Ilana Zeigerman.
Com isso, é possível tomar decisões baseadas em dados confiáveis e encontrar as melhores estratégias para elevar a eficiência do serviço, oferecendo uma melhor experiência ao passageiro. Para o time de colaboradores, uma ferramenta como a Optibus permite realizar o trabalho de maneira muito ágil e rápida, deixando para trás processos lentos e custosos. Além disso, a plataforma não requer infraestrutura de TI, por ser nativa na nuvem, e é de fácil aprendizado por conta de sua interface altamente amigável.
Para desenvolver uma proposta de intervenção alinhada com as necessidades locais, realizei uma série de pesquisas interativas que envolvem as diversas opiniões dos passageiros frequentes da rodoviária.
Por meio desta coleta de dados e visitas ao local, a análise apresentou uma situação precária em relação ao acesso de pedestres e das instalações do terminal. A acessibilidade deve ser uma prioridade para todos os hubs de transporte público, uma vez que os passageiros necessitam transitar rapidamente pelo local, enquanto as instalações devem atender majoritariamente todas as demandas do usuário, garantindo segurança entre os fluxos.
O projeto consiste na ativação dessa estrutura anteriormente não utilizada, melhorando a experiência dos visitantes da rodoviária do Plano Piloto criando, assim, novas oportunidades para o tráfego de pedestres, otimização do fluxo local e melhorias na segurança pessoal.
A proposta inclui uma passarela conectando o terminal e a área do projeto, possibilitando o trajeto contínuo do pedestre, além de proporcionar incidência solar direta e ventilação natural ao ser adaptada à fachada do volume estudado. (Renderização cortesia de Ilana Zeigerman).
Ao implementar um corte na fachada, a luz natural atinge grande parte da planta baixa aberta na proposta. A distribuição interna ampla reforça o tema de livre circulação e permeabilidade encontrado em todo o desenho urbano de Brasília.
O espaço não utilizado é ativado em um saguão aberto, iluminado por abundante luz e ventilação natural. (Renderização cortesia de Ilana Zeigerman).
O fluxo e os movimentos ininterruptos de pedestres também reforçam o foco nos passageiros, assim como a inclusão de espaços projetados de acordo com as demandas locais como áreas de permanência duradoura, salas de coworking, oficinas gratuitas, região de livre wi-fi e mobiliários planejados para uso conforme o programa de necessidades.
O imenso espaço inutilizado em pleno centro de Brasília era desconhecido pela maior parte do público no momento de minha pesquisa. Houve uma grande oportunidade de mudança quando minhas descobertas e propostas foram publicadas no principal jornal da capital Federal e quando fui convidada pelo Banco do Brasil para apresentar no Museu Nacional da República. Porém, o espaço permanece inativo, a acessibilidade do local continua precária e os passageiros ainda enfrentam ameaças à segurança pessoal ao visitar a rodoviária do Plano Piloto.
Boa arquitetura e design elevam a experiência do passageiro significativamente. Essa experiência aprimorada é crucial para o aumento do uso do transporte público. Portanto, quando pensamos na experiência do usuário, é indispensável começar com o que acontece antes e depois da viagem em si.